Há um ano, o Centro de Atendimento Integrado às Pessoas em Situação de Rua (Cipop-Rua) abriu as portas para transformar vidas — e o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) tem sido parte fundamental dessa história. Desde 2 de abril de 2024, quase 1,3 mil pessoas em situação de rua ou extrema vulnerabilidade social foram atendidas pelo guichê da Justiça Eleitoral, com serviços como a emissão e regularização do título de eleitor.

Localizado na Rua Senador Pompeu, ao lado da Central do Brasil, o Cipop-Rua é coordenado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) e funciona como um verdadeiro polo de cidadania. Diversos órgãos federais, estaduais e municipais atuam em conjunto no espaço, que atende o público de segunda a sexta-feira, das 11h às 16h.

A chefe do Núcleo da Justiça Eleitoral Itinerante, Fernanda Gomes, ressalta o papel do TRE-RJ em tornar visível uma população historicamente esquecida. “Nosso compromisso é garantir acesso à cidadania de forma autônoma e sustentável, promovendo uma vida mais digna e igualitária para todos os cidadãos. Desde 2022, já atendemos quase 2,4 mil pessoas em situação de rua ou extrema vulnerabilidade”, afirma.

Esses atendimentos não se restringem ao Cipop-Rua. A Justiça Eleitoral Itinerante também participa de ações externas em parceria com outros órgãos, como o PopRuaJud e o AcessaJus (TRF2), o Registre-se (CNJ) e o Levando Cidadania (TJRJ). “Nessas ações, as pessoas conseguem dar o primeiro passo para reconstruir suas vidas. Ter acesso a documentos essenciais abre portas para várias oportunidades e recursos que são fundamentais para recomeços”, completa Fernanda.

O guichê do TRE-RJ no Cipop-Rua faz parte desse esforço contínuo de inclusão. Desde a retomada da Justiça Eleitoral Itinerante, em 2022, o tribunal vem ampliando o acesso aos seus serviços, chegando a quem mais precisa.

Histórias de quem está recomeçando 

Um dia no Cipop-Rua é suficiente para conhecer histórias marcantes de dor, coragem e recomeço. É o caso de Juliana Genésio, de 42 anos, que viveu oito meses nas ruas antes de buscar ajuda no centro. Lá, ela conseguiu recuperar documentos essenciais como RG, CPF e título de eleitor.

“Perdi minha casa da noite para o dia. Meu marido a vendeu e fugiu. Estava grávida e com quatro filhos. Foi o pior momento da minha vida”, conta Juliana. Por vergonha, recusou ajuda e foi parar nas ruas. Agora, com os documentos em mãos, ela vislumbra novos caminhos: “Trabalhei fazendo limpeza e, recentemente, recebi uma proposta com carteira assinada”.

Outro exemplo é Paulo Cesar Santos, de 39 anos. Natural de Itaperuna, ele passou os últimos nove meses nas ruas da Lapa e do Campo de Santana, após deixar a casa da família por conta de conflitos. No Cipop-Rua, fez a transferência do título de eleitor para o Rio e planeja recomeçar como serralheiro. “Hoje durmo em abrigos e pego a van da Assistência Social que passa aqui todo fim de tarde”, relata.

Também em busca de um novo começo está Edson de Albuquerque, de 35 anos. Pai de cinco filhos, ele deixou a casa onde vivia na Rocinha após desentendimentos familiares e foi para abrigos públicos. “Perdi meus documentos e quero trabalhar como garçom, ter meu próprio lar. Por enquanto, não penso em voltar”, afirma com esperança.

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Reconhecimento nacional

O trabalho desenvolvido no Cipop-Rua foi reconhecido nacionalmente com o Prêmio CNJ de Boas Práticas de 2024, na categoria Impacto Social e Transformação. A iniciativa se destacou por promover a inovação, a eficiência e a humanização no Judiciário, servindo de exemplo para outras regiões do país.

Além do guichê da Justiça Eleitoral, o Cipop-Rua reúne serviços de instituições como Detran-RJ, Fundação Leão XIII, Junta Militar, Defensoria Pública, OAB-RJ, Ministério do Trabalho, TRT, Sine, INSS e Assistência Social. Lá, é possível emitir gratuitamente a primeira ou segunda via de documentos, regularizar o alistamento militar, acessar o CadÚnico, abrir processos trabalhistas e até se inscrever para vagas de emprego e benefícios como o Bolsa Família.

Com um ano de funcionamento, o Cipop-Rua já é símbolo de dignidade e reconstrução para quem não perdeu a esperança em um novo começo.