Reflexões sobre representatividade e inclusão marcam o Mês da Consciência Negra no TRE-RJ
Evento realizado nesta segunda-feira (25) destaca desafios e avanços na luta por equidade no Judiciário e na sociedade brasileira
A luta por representatividade e igualdade racial foi o centro das discussões realizadas nesta segunda-feira (25), no auditório do Palácio da Democracia, sede do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). O evento, organizado pela Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP), marcou o Mês da Consciência Negra e reuniu cerca de 100 participantes em um debate sobre equidade racial e de gênero na Justiça e na sociedade.
A abertura do evento contou com a diretora-geral do TRE-RJ, Eline Íris, que destacou a importância de reflexões como essas no contexto do tribunal. "Somos o Tribunal da Democracia, e essas pautas atravessam as nossas atividades. Esse diálogo é fundamental para promovermos uma Justiça mais inclusiva e representativa", defendeu Eline.
Na primeira mesa de debates, a juíza Leidejane Chieza (foto), da 43ª Zona Eleitoral (Natividade) e gestora no TJRJ do Pacto Nacional do Judiciário pela Equidade Racial, compartilhou sua trajetória de desafios e conquistas como mulher negra no Judiciário. A juíza relatou os preconceitos enfrentados desde a universidade, onde era a única aluna negra, até o exercício da magistratura estadual e a conciliação entre a atividade profissional e a maternidade.
"Ser mulher negra em um ambiente de pessoas brancas é difícil, mas ser mulher negra e mãe, como foi o meu caso, é quase impossível. Nossa caminhada é sofrida, mas é fundamental nos reconhecermos como negros e nos posicionarmos. Não somos inferiores a ninguém", enfatizou a juíza.
Servidora do TSE, Jândria Santos trouxe uma análise prática do racismo estrutural, destacando a invisibilidade de pessoas negras nos espaços de poder e a necessidade de políticas afirmativas mais robustas. Luciane Pereira, servidora do TRE-RJ, ressaltou a importância de servidoras e servidores negros na promoção de mudanças no sistema de Justiça.
"A presença de pessoas negras no Judiciário vai além da representatividade. É sobre criar uma cultura de inclusão e diversidade, para que as pessoas se sintam representadas e acolhidas", defendeu Luciane.
A segunda mesa ampliou a discussão, trazendo outras perspectivas. O professor e babalaô Ivanir dos Santos, doutor em História Comparada pela UFRJ, destacou o papel das tradições afro-brasileiras na resistência ao racismo, traçando um panorama histórico que conectou conceitos de pensadores europeus ao fortalecimento de estereótipos racistas. O escritor e documentarista Marcelo Gularte abordou a música como ferramenta de resistência, trazendo exemplos como o chorinho, um marco da cultura brasileira criado por Joaquim Calado, um homem negro.
Encerrando o painel, a mestre em sociologia Marcelle Felix discutiu o papel transformador da mídia no combate ao racismo, revelando números preocupantes sobre a baixa representatividade de pessoas negras na publicidade e nos cargos de liderança no setor. "O apagamento da população negra na mídia não é um reflexo isolado. É uma engrenagem que perpetua a desigualdade e reforça estereótipos", alertou.
O evento foi encerrado com um convite à reflexão e ao compromisso com a mudança, reafirmando a importância do diálogo para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.